quinta-feira, 25 de março de 2010

Como lidar com o desejo sexual

Por Christopher West

Minhas colunas recentes sobre a "redenção sexual" continuam a despertar interesse. Um católico consciencioso escreveu para mim depois da minha última coluna pedindo algumas sugestões práticas para se viver a redenção da sexualidade. O que segue é adaptado de uma entrevista recente sobre o mesmo assunto.

João Paulo II escreveu que, para se experimentar a vitória sobre a luxúria, devemos nos dedicar a "uma educação progressiva do auto-controle da vontade, dos sentimentos, das emoções, que deve ser desenvolvida desde os mais simples gestos, nos quais é relativamente fácil colocar a decisão interior em prática" (TC 24/10/1984)*. Por exemplo, podemos analisar os nossos hábitos alimentares. Se uma pessoa não consegue dizer não a um pedaço de bolo, como poderá dizer não para um e-mail pedindo para olhar pornografia na Internet? O jejum é uma forma maravilhosa de crescer no domínio de nossas paixões. Se isso ainda não é parte da vida de uma pessoa, ela deve começar com um simples sacrifício que seja relativamente fácil de pôr em prática. À medida que se continua exercitando esse “músculo”, ela continuará vendo sua força aumentar. O que antes era "impossível" gradualmente se torna possível.

A analogia do músculo, porém, é apenas parcialmente correta. Crescer na pureza certamente exige esforço humano, mas também somos ajudados pela graça sobrenatural. Aqui, como eu disse em um artigo anterior, é fundamental distinguir entre a repressão e a entrada na redenção. Quando o desejo "se acende", em vez de reprimi-lo, empurrando-o para o subconsciente, tentando ignorá-lo, ou ainda procurando aniquilá-lo, podemos ao invés entregar as nossas paixões a Cristo e permitir que ele as "crucifique" (cf. Gal 5, 24). Ao fazermos isso, "o Espírito do Senhor dá forma nova aos nossos desejos" (Catecismo da Igreja Católica, 2764).

Em outras palavras, ao permitir que a luxúria seja "crucificada", chegamos também a experimentar a "ressurreição" do desejo sexual como Deus o quer. Não imediatamente, não facilmente, mas gradualmente, progressivamente, à medida que tomamos a nossa cruz de cada dia. Só assim poderemos vir a experimentar o desejo sexual como o poder de amar à imagem de Deus.

Quando as tentações sexuais nos assaltam, como normalmente acontece, podemos dizer uma oração como esta: “Senhor, eu vos agradeço pelo dom de meus desejos sexuais. Eu entrego meus desejos desordenados ao Senhor, e peço, por favor, pelo poder de vossa morte e ressurreição, que corrijais em mim as distorções que o pecado produziu, para que eu possa vir a sentir desejo sexual do modo como desejais – como o desejo de amar como vós amais, à vossa imagem”.

Como João Paulo II escreveu na sua Teologia do Corpo, "perseverança e coerência" são necessárias para aprender "o que é o significado do corpo, o significado da feminilidade e da masculinidade... Isso é uma ciência que não pode realmente ser aprendida apenas de livros, porque consiste primariamente em um profundo conhecimento ‘da interioridade humana’", isto é, do coração humano. No fundo do coração aprendemos a distinguir os tesouros místicos da sexualidade daquilo que traz apenas a marca da luxúria. "Deve-se acrescentar," diz João Paulo, "que essa tarefa pode ser realizada e que é verdadeiramente digna do homem" (TC 12/11/1980).



Certamente é verdade que às vezes o amor e a luxúria são difíceis de distinguir. Um homem, por exemplo, ao reconhecer a beleza de uma mulher, deve estar se perguntando onde está o limite entre vê-la como um objeto para sua própria gratificação e admirar ternamente sua beleza. Como escreve João Paulo II, a luxúria ou concupiscência “nem sempre é sempre simples e óbvia; às vezes está escondida, de modo que se faz passar por ‘amor’... Isso significa que devemos desconfiar do coração humano? Não!", o Papa insiste. "É só para dizer que temos de permanecer no controle dele" (TC 23/07/1980).

"Controle" aqui não significa apenas dominar os desejos desordenados a fim de mantê-los "sob vigilância". À medida que amadurecemos no auto-controle, passamos a experimentá-lo como "a capacidade de orientar as reações [sexuais], tanto com relação ao seu conteúdo quanto ao seu caráter" (TC 31/10/1984). A pessoa que é verdadeiramente senhora de si mesmo é capaz de dirigir o desejo erótico "para o que é verdadeiro, bom e belo" (TC 12/11/1980). Quando isso acontece passamos a compreender e experimentar o mistério da sexualidade "em uma profundidade, simplicidade e beleza até então completamente desconhecidas" (TC 04/07/1984). Por sua vez, passamos a perceber que a versão da sexualidade promovida pela cultura é como “lixo” em comparação com o banquete do amor revelado no plano divino.
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* A sigla TC refere-se à “Teologia do Corpo”, e a data ao lado da sigla diz respeito ao dia da audiência em que o trecho foi retirado. A Teologia do Corpo constitui-se na coletânea de 129 catequeses proferidas por João Paulo II durante as audiências gerais de quarta-feira no Vaticano.

Traduzido de: http://www.christopherwest.com/page.asp?ContentID=136
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