quarta-feira, 7 de abril de 2010

Uma visão superficial do sexo

O mundo diz que não há nada de intrinsecamente certo ou errado em qualquer “escolha” sexual. Não acredite nisso.

por Matt Kaufman
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Jane tem um problema. É sobre... hhmm... sexo – o que é certo fazer, e o que não é. E não é sobre ela, na verdade: Trata-se de uma amiga.

Jane escreveu recentemente sobre seu problema para a coluna de Carolyn Hax no jornal “Washington Post”, uma coluna dedicada a dar conselhos às leitoras. Eu estou mudando o nome dela (seu nome aparecia como "Anônimo"), mas essa é a única coisa que eu vou mudar. Quanto ao resto, veja o que Jane disse, em suas próprias palavras, inalteradas:
"Querida Carolyn: Eu tenho uma amiga que é muito promíscua, e no começo eu não ligava, mas agora me incomoda. Eu não sei como ou se eu deveria dizer algo a ela. Ela não é discreta sobre suas ações, e é conhecida entre muitas pessoas como "fácil" ou "vadia". Você acredita que essa mulher tem 35 anos? Seu comportamento realmente não me espanta, mas as pessoas sabem que eu sou uma boa amiga dela, e eu me pergunto se eu poderia sofrer com essa associação. Eu também estou começando ter minhas próprias opiniões sobre suas ações, e eu me preocupo com sua saúde. Estou indecisa (e como!) se eu devia falar para ela como me sinto ou se eu deveria deixá-la viver sua própria vida e colher o que ela semeia. "

Jane precisava definitivamente de ajuda para resolver suas dúvidas. Infelizmente, a resposta que ela obteve da Sra. Hax não foi muito útil:

"Então, aos 35 anos a sexualidade de uma mulher fica condenada à prisão domiciliar? Acredito que homens e mulheres, de 17 anos em diante, são capazes de tomar suas próprias decisões sobre a própria sexualidade. Alguns mais cedo, alguns mais tarde, alguns nunca, mas essa é a idéia, você entendeu. Se ela está claramente insatisfeita com suas escolhas, ou se suas escolhas estão claramente machucando outras pessoas, então você tem motivos para expressar como se sente. Se você simplesmente não quer, ou respeita as decisões dela, então você simplesmente não quer ou respeita as decisões dela. Mas se você acha que a reputação dela é ruim para a sua reputação, então, por favor, revise seus próprios valores. O que é “certo” aqui: Ter um julgamento questionável ou julgar os outros como questionáveis? Perder as roupas ou perder amigos? Pouca coisa basta para fazer as coisas ficarem “preto no branco”, e a sexualidade talvez seja a zona mais “cinza”: misturada e variável nos tons. Para navegar por ela, faça a si mesma duas perguntas: Quem está machucando quem e por quê? E, sabendo disso, no coração de quem você confiaria, e se sentiria no lugar certo? "

Hax tem um bom argumento – apenas um único bom argumento. E um monte de maus.

O argumento bom (com o risco de estar falando o óbvio) é que a amizade não deve depender de uma imagem. Amigos não deixam de ser amigos por causa de coisas desse tipo. Mas amigos também não ignoram que a outra pessoa tenha mergulhado na promiscuidade. Eles podem não saber o que dizer sobre isso, ou como, ou quando: podem ter dificuldade em encontrar o momento certo e a maneira de falar sobre isso. Mas pelo menos sabem que há algo errado sobre isso, e querem fazer algo sobre isso, se puderem.

Você não saberia disso ouvindo somente Hax aqui. Quando o assunto é sexo, ela não fala outra língua a não ser a da autonomia pessoal, e parece não conhecer nenhum padrão superior além da escolha individual. Você tem o direito de tomar suas "próprias decisões" sobre a sua “própria sexualidade”. Ninguém deveria ligar para nada, a não ser que você estivesse "claramente infeliz" ou estivesse "claramente magoando os outros" com suas "escolhas". E assim por diante.

Você já ouviu tudo isso antes, é claro: as pessoas já vêm falando isso há um bom tempo: “Não há nada de intrinsecamente certo ou errado em qualquer ‘escolha’ sexual desde que sejamos adultos ‘consentindo’ com isso. E, bem, se falta apenas um ano para sermos adultos... Ou talvez dois... não tem muito problema.”

Mas sempre é uma vergonha ouvir isso novamente. Hax é uma colunista que dá conselhos, afinal de contas. E embora você não precise realmente de ‘insight’ ou de sabedoria a ponto de ter que procurar conselho nessas colunas, enquanto existir alguém disposto a publicar colunas existirão pessoas levarão a sério o conselho desses colunistas.

Além disso, Jane realmente deveria ter recebido um bom conselho. Ela me pareceu uma pessoa com uma dúvida honesta. Sim, ela pode estar preocupada com a sua própria reputação, mas eu suspeito que não tanto quanto Hax parece pensar. Ela me parece genuinamente preocupada com sua amiga. Ela está convencida de que há algo de errado com a promiscuidade, e ela detesta ver sua amiga reduzida à promiscuidade. Seu maior problema talvez seja que ela está confusa sobre o que há de errado nisso tudo.

Apenas a partir de sua carta (ou pelo menos da parte que foi publicada), é difícil dizer exatamente como Jane pensa. Qual é a base de sua oposição à promiscuidade? Em parte são as conseqüências físicas, como as doenças sexualmente transmissíveis. Em parte é pressão social: chamam as pessoas promíscuas de “vadias”, e sua amiga não é "discreta". E em parte é uma questão de moralidade: Jane se vê "emitindo um juízo" sobre as ações da sua amiga.

Isso ainda deixa muita coisa sem esclarecimento. Por exemplo, quanto dessa preocupação de Jane com sua própria reputação é baseada em um desejo de ser bem vista pelos outros, simplesmente por causa de aprovação, e quanto é baseada em um sentimento de que as outras pessoas estão refletindo um importante consenso moral? Sem saber o que Jane pensa, não podemos dizer. Mas ambos os fatores, provavelmente, estão relacionados. A pressão social e os padrões morais sempre se reforçaram mutuamente, até certo ponto. Às vezes, você se importa o que as outras pessoas pensam, porque você sente que elas estão certas.

A grande questão, porém, é esta: Por que, afinal de contas, Jane acha que a promiscuidade é moralmente errada? Ou, dito de outra forma, qual é o seu padrão de moralidade? Será que ela acha certo ter relações sexuais com algumas pessoas, mas não muitas? Será que ela acha certo “brincar” um pouco, mas em algum momento da vida você tem que se estabelecer? ("Você acredita que essa mulher tem 35 anos?") Será que ela acha certo o sexo no contexto de um certo tipo de "relacionamento?" Ou, só quando se acha que a coisa está indo no rumo de um casamento? Ou só quando se está noivo? Ou só, e somente só, quando se é casado?


Minha esperança é que Jane adote este último padrão. Meu palpite é que ela paira em algum lugar entre os outros padrões. Jane, eu suspeito, está em conflito não apenas sobre o que fazer, mas sobre o que pensar disso tudo.

Por outro lado, ela sabe no fundo do coração que o sexo deve ser importante em um nível moral: entrar nele muito livremente é desvalorizar algo que ela sente que deve ser precioso. Por outro lado, toda a cultura diz a ela todos os dias que esperar só pelo casamento é apenas uma relíquia de um passado primitivo. Não que muitas pessoas gastem muito tempo se preocupando em defender essa posição. É simplesmente assumido que é assim, junto com um monte de outras coisas (do mesmo modo que a idéia de “julgamento” de “escolhas pessoais” é vista com maus olhos).

Como Jane lida com esse choque entre o coração e a cultura? Mais uma vez, só podemos especular. Um monte de mulheres resolve se centrar nos sentimentos. Elaboram um sistema onde a moralidade das relações sexuais (se é que elas se permitem pensar em termos de moral) se resume a uma relação emocional. Eles podem até querer um casamento duradouro, mas imaginam que isso é um “ideal”, e que não podem manter esse ideal, muito menos sustentá-lo como um padrão universal. A promiscuidade desenfreada ainda choca e é tida como desprezível, mas o sexo com alguns "parceiros" – um de cada vez, na busca pela “pessoa certa” ou procurando alguém pelo menos “razoável” – bem, isso é "aceitável"...

É uma péssima decisão aceitar padrões mais baixos, e isso deixa as mulheres e também os homens em uma posição terrível. Tratar o sexo como uma enorme zona moral “cinzenta” ou relativa – nas palavras de Hax, "a zona mais confusa de todas" – não é apenas anti-bíblico, é inviável até mesmo em um nível puramente prático. Mesmo que seja reservado para os "relacionamentos com compromisso", esses relacionamentos têm uma maneira muito rápida de perder o “compromisso”. Na verdade, toda a razão para se manter solteiro é se manter descompromissado.

O que Jane e as milhões de outras pessoas que estão tentando lidar com esta questão precisam, mais do que tudo, é claridade. O que elas precisam ouvir, não é que tudo é “cinza” e incerto, mas que algumas coisas são realmente “preto e branco” – e o sexo fora do casamento é realmente uma dessas coisas.

Os cristãos têm uma grande contribuição a dar sobre este assunto, maior do que qualquer contribuição que o mundo possa oferecer, qual seja: uma compreensão mais profunda, mais rica, e mais verdadeira do amor entre homem e mulher. Nós temos um antídoto para todas as mentiras tentadoras porém invariavelmente destrutivas que o mundo fala sobre sexualidade. Temos muito a dizer. Mas muitas vezes nós temos vergonha de dizer isso e, normalmente, as pessoas que precisam ouvir isso ouvem apenas as mentiras.

Nós realmente precisamos vencer nossa timidez. Devemos isso às Janes do mundo.
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Copyright © 2007 Matt Kaufman. Todos os direitos reservados. Copyright internacional garantido. Sobre o autor: Matt Kaufman é um escritor freelancer, contribuindo para a revista “Citizen”, e ex-editor da revista “Boundless”. Traduzido de: http://www.pureintimacy.org/piArticles/A000000422.cfm

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