sábado, 28 de abril de 2012

Vídeo do Pe. Paulo Ricardo sobre o Feminismo

Os vídeos do Pe. Paulo Ricardo são sempre importantes, corretos, urgentes. Por favor, assista a mais esse vídeo, e que Deus abençoe a vocação do Pe. Paulo.



Fonte: http://padrepauloricardo.org/audio/47-parresia-feminismo-o-maior-inimigo-das-mulheres/
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sábado, 21 de abril de 2012

Bernard Nathanson. A conversão de um abortista

Por L´Osservatore Romano

Em sua autobiografia intitulada The Hand of God, “A mão de Deus”, Bernard Nathanson – outrora conhecido em Nova York como o “rei do aborto” por ter participado, direta ou indiretamente, de 75.000 deles – conta como se converteu num dos mais destacados defensores da vida, tendo depois ingressado na Igreja Católica. A categoria intelectual e moral do Dr. Nathanson fez com que muitos dos que praticavam ou fomentavam o aborto, incluindo alguns parlamentares, reconhecessem o seu erro e se unissem à luta em favor da vida humana mais indefesa: a dos não-nascidos.

O aborto e todo o seu séqüito – da eutanásia aos “estoques” de embriões humanos congelados – são assuntos que nunca estarão definitivamente resolvidos, já que afetam o próprio sentido da vida humana. No atual momento da História, é nos Estados Unidos onde a divisão de forças entre a “cultura da morte” e a “civilização do amor” pode ser vista com mais clareza do que em qualquer outro lugar. Conversões como a do dr. Bernard Nathanson – primeiro à causa pró vida e depois à fé cristã – são altamente significativas, pois mostram a força das evidências científicas e o poder da oração. Além disso, manifestam a íntima conexão que existe entre Deus e a Lei natural inscrita por Ele na natureza humana. Quem reconhece e segue a Lei natural, muito possivelmente acabará encontrando Deus e a Igreja.


O ABORTO, TAL COMO ELE É

Muitos leitores conhecem em grandes traços a história do Dr. Nathanson. Em 1969 fundou com outras pessoas a Associação Nacional para a Revogação das Leis contra o Aborto (conhecida pela sigla NARAL. Quando mais tarde adotou o nome de Liga Nacional de Ação pelos Direitos Reprodutivos e do Aborto – National ReproductiveAbortion Rights Action League –, a sigla manteve-se). Foi Diretor do Centro de Saúde Reprodutiva e Sexual de Nova York, que na época era a maior clínica de abortos do mundo.

No final da década de 70, abandonou a militância a favor do aborto e chegou a ser um grande advogado da causa pró vida, principalmente com o seu livro Aborting America <“A América que aborta”> e com o vídeo The Silent Scream (“O Grito Silencioso”). Este último constituiu uma verdadeira revolução: empregando a tecnologia médica, mostrou de forma definitiva todos os horrores do aborto, tal como realmente ocorre no ventre materno. Esse vídeo e a sua continuação, The Eclipse of Reason (“O Eclipse da Razão”), foram amplamente exibidos, não somente para o grande público através de canais de televisão em todo o mundo, como também em sessões especiais para parlamentares de diversos países.

Nathanson logo se tornou alvo da ira das forças que promovem a cultura anti vida nos Estados Unidos. Sua mudança de atitude ao convencer-se da realidade objetiva do aborto – a supressão de uma vida humana inocente – fez dele um tema habitual para radicalizações e sátiras. A partir de então passou a atuar simultaneamente como obstetra de prestígio e como professor universitário, viajando pelo mundo todo para dar conferências em defesa dos não nascidos. Já prestes a aposentar-se, publica a sua autobiografia, que contém não somente impressionantes revelações sobre como um homem pode chegar a ser um abortista, mas também – por ter sido escrito quando estava já às vésperas de dar o último passo da sua conversão e incorporar-se, pelo Batismo, à Igreja de Cristo – um testemunho convincente do poder da graça divina.


SEM DESCULPAS

O livro não é fácil nem agradável de ser lido, pois revela ações más e verdadeiramente repugnantes. O que chama a atenção e merece elogios é o fato de o autor não oferecer nenhum argumento que sirva de desculpa para o seu comportamento. Embora o leitor não encontre nada que justifique a conduta de Nathanson, pelo menos encontrará muitas razões para compreendê-la, ao conhecer como foi a infância e a adolescência do autor. Nathanson relata minuciosamente os seus primeiros anos em Nova York, no seio de um lar em que não havia o menor indício de fé religiosa, nem de lealdade ou carinho familiar. A religião não teve papel algum na sua educação. Sua família, judia, não praticava a fé, embora celebrasse as festas religiosas, da mesma forma que muitas famílias cristãs também festejam de algum modo a Páscoa ou o Natal sem que essas solenidades tenham quaisquer conseqüências práticas sobre a sua forma de pensar ou de agir.

É realmente impressionante como Nathanson descreve a idéia que tinha de Deus na sua infância. “Minha imagem de Deus – concluiu, refletindo sessenta anos depois – era a da figura ameaçadora, majestosa e barbuda do Moisés de Michelangelo: sentado sobre o que parecia ser o seu trono, inspecionava o meu destino e estava prestes a lançar sobre mim o seu juízo inexoravelmente condenatório. Assim era o meu Deus judeu: terrível, despótico e implacável”. Num momento posterior da sua vida, quando cumpria o serviço militar na Força Aérea, leu um livro sobre a Bíblia para passar o tempo nas horas mortas. Descobriu que “o Deus do Novo Testamento era uma figura amável, clemente e incomparavelmente carinhosa. Nela iria eu depois buscar, e por fim encontraria, o perdão que desejei por tanto tempo e tão desesperadamente”. Foi um presságio da sua posterior conversão à fé cristã.


O SEGREDO DA PAZ DE CRISTO

Durante os seus estudos de Medicina na Universidade McGill do Canadá, teve como professor o famoso psiquiatra judeu Karl Stern, que havia emigrado da Alemanha nazista. Essa relação teria conseqüências positivas várias décadas depois, quando Nathanson começou a examinar mais de perto as razões do Cristianismo. A respeito de Stern, diz: “Era a figura dominante no Departamento: um grande professor, um orador fascinante – chegava a ser eloqüente, embora empregasse um idioma que não era o seu – e um polemista brilhante, que infalivelmente disparava idéias originais e atrevidas. (...) Tive para com Stern uma espécie de culto ao herói: estudei a Psiquiatria com a diligência de um escriba que esquadrinha a Bíblia, e em troca me deram o prêmio de Psiquiatria ao acabar o quarto ano. (...) Stern transmitia uma serenidade e uma segurança indefiníveis. Na altura eu não sabia que em 1943 – após anos de meditação, leitura e estudo – ele se tinha convertido ao Catolicismo”. Mais tarde, quando Nathanson leu a famosa autobiografia de Stern, Pillars of Fire (“Pilares de Fogo”), compreenderá que o seu autor “possuía um segredo que estive toda a vida buscando: o segredo da paz de Cristo”.

Os capítulos seguintes descrevem a compulsiva promiscuidade de Nathanson, da qual resultou o seu primeiro contato com o aborto, pago pelo seu pai e feito na sua primeira namorada. Depois vem a história dos seus dois primeiros casamentos e o episódio que talvez seja o mais arrepiante: o aborto feito por ele mesmo em outra das mulheres com quem tinha tido relações.


AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

Nos capítulos seguintes, Nathanson conta o que já em boa parte tinha explicado em seu livro Aborting America sobre a sua crescente participação na campanha pela liberação do aborto nos Estados Unidos. Como se sabe, essa campanha terminou em 1973, com a sentença da Suprema Corte que – na prática – legalizou o aborto solicitado.

Com o passar do tempo, Nathanson viu claramente as evidências científicas – em boa parte graças às novas tecnologias, que permitiam ver a criança dentro do ventre materno – de que “aquilo” que abortou milhares de vezes (segundo seus próprios cálculos, esteve direta ou indiretamente envolvido em 75.000 abortos) era na verdade um ser humano: era-o desde o instante da concepção. Deixou de praticar abortos e passou a ser o mais famoso “convertido” e o mais conhecido defensor da causa pró vida nos Estados Unidos.


MATADOUROS HUMANOS

Num dos últimos capítulos, intitulado “Rumo aos Tanatórios”, Nathanson faz predições sobre o que o Papa Paulo VI já antecipava com tanta clarividência na sua Encíclica Humanae Vitae: uma vez perdido o respeito pela vida humana em seu começo, chega-se inevitavelmente à eutanásia. Prognostica que em breve haverá clínicas que farão negócio com a morte.

“Baseando-me na minha própria experiência com um tipo de paganismo tão extremo como esse, posso prever que haverá empresários que montarão pequenos e discretos «sanatórios» para aqueles que desejem morrer ou que a isso tenham sido persuadidos, coagidos ou enganados pelos médicos (...). Mas isso será apenas a primeira fase. Quando os tanatórios (do grego thanathos, morte) tiverem prosperado e se expandido, formando redes de clínicas e concessionárias, os administradores assumirão o comando, cortando gastos e custos à medida em que a concorrência for aumentando. Na sua versão final, os tanatórios – reorganizados, eficientes e economicamente perfeitos – tornar-se-ão primeiramente muitíssimo parecidos às fábricas de produção em série em que se converteram as clínicas abortistas; numa fase posterior, serão semelhantes aos fornos de Auschwitz”.


O EXEMPLO E A ORAÇÃO

Apesar de tudo, Nathanson termina o livro com uma nota de esperança na misericórdia, no perdão e na salvação oferecida por Cristo. Como costuma ocorrer nas histórias de conversões, foi a oração e o exemplo de muitos amigos e colegas pró-vida o que acabou por vencer a resistência daquele ateu endurecido, que assim pôde compreender que é possível haver um lugar no coração de Deus até mesmo para gente como ele.

Referindo-se a uma manifestação pró-vida em frente a uma clínica abortista, conta que os participantes “rezavam, apoiavam-se mutuamente, cantavam hinos de júbilo e recordavam constantemente uns aos outros a proibição absoluta de empregar a violência. Rezavam pelos não-nascidos, pelas pobres mulheres que iam lá para abortar, e pelos médicos e enfermeiras da clínica. Rezavam inclusive pelos policiais e jornalistas designados para o local. Eu me perguntava: «Como é que essa gente pode se entregar por um público que é – e sempre será – mudo, invisível e incapaz de qualquer agradecimento?»” Ver aqueles manifestantes pró-vida, dispostos a ir para a cadeia e a arruinar-se por suas convicções, causou em Nathanson uma profunda impressão.

Conta então que “pela primeira vez em minha vida de adulto, comecei a albergar a noção de Deus: um Deus que paradoxalmente me tinha levado até à beira dos proverbiais círculos do inferno, só para mostrar-me o caminho para a redenção e para o perdão mediante a sua graça. Esse pensamento contradizia todas as férreas certezas, que me haviam sido tão queridas: num instante converteu o meu passado num repugnante lodaçal de pecado e de maldade; me acusou e condenou pelos graves crimes contra aqueles que me amavam e contra aqueles que nem sequer conheci; e ao mesmo tempo – milagrosamente – ofereceu-me uma reluzente centelha de esperança, na crença – cada vez mais firme – em que há dois mil anos Alguém morrera pelos meus pecados e pela minha maldade”.

L´OSSERVATORE ROMANO, 21 de fevereiro de 1997, pág. 9.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

segunda-feira, 9 de abril de 2012

NUNCA O PERIGO ABORTISTA ESTEVE TÃO PRÓXIMO

Conscientes de que seria quase impossível obter a legalização do aborto pelo Poder Legislativo, os defensores do aborto resolveram usar como "atalho fácil" (nas palavras de Ellen Gracie em 27/04/2005) o Supremo Tribunal Federal.

Composto de onze ministros, nenhum deles eleito pelo povo, todos nomeados pelo Presidente da República, o STF deverá julgar no dia 11 de abril, quarta-feira de oitava da páscoa, a ADPF 54 (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54).
A ação, que usa como testa de ferro a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, pretende que a Suprema Corte "reinterpretando" o Código Penal, declare que a "antecipação terapêutica de parto" (para não dizer "aborto") de uma criança anencéfala não se enquadra nas condutas descritas para o crime de aborto.

O argumento usado nessa ação é o de que impedir a mãe de abortar seu bebê em tal caso seria violar a "dignidade humana" dela, seu direito à "liberdade" e seu direito à "saúde". Preservar a vida do deficiente seria, na opinião dos que defendem a ADPF 54, descumprir todos esses preceitos fundamentais da Constituição: dignidade humana, liberdade, saúde. A criança (que nunca é chamada "criança", mas "feto") é sempre desqualificada: é um "monstro", um "peso inútil", sua mãe é um "caixão ambulante" etc.

Embora a anencefalia admita vários graus (de modo que é praticamente impossível uma definição exata da anomalia) e embora os anencéfalos reajam a estímulos nervosos, respirem com os próprios pulmões e tenham uma sobrevida variável (de alguns minutos até um ano e oito meses, como no caso de Marcela de Jesus Ferreira), os defensores de tal aborto frequentemente mentem dizendo: que o bebê tem a vida de um vegetal, que não tem capacidade de sentir nem de ter consciência, e que sua sobrevida além de alguns minutos é totalmente impossível.

Em 27/04/2005, quatro Ministros perceberam a má-fé da ADPF 54 e resolveram não conhecê-la, mas foram vencidos: foram eles Ellen Gracie, Eros Grau, Cezar Peluso e Carlos Veloso. Desses, somente Cezar Peluso pertence atualmente ao Tribunal. Agora, no julgamento do mérito, os defensores do aborto precisam de seis votos.

A situação é particularmente grave. Nunca o perigo abortista esteve tão próximo. Note-se: não é um anteprojeto de reforma do Código Penal (que nem sequer foi ainda encaminhado ao Congresso), não é um projeto de lei (que precisaria ser aprovado pela Câmara e pelo Senado e depois ser sancionado pelo Presidente da República). É uma ação judicial à espera de uma decisão que terá efeito vinculante, como se fosse uma lei, e sem qualquer possibilidade de recurso.

A nação brasileira corre o perigo iminente de sofrer um golpe via STF.

É por esse motivo que recomendamos a presença de todos os que puderem à Vigília pela Vida, cuja programação está abaixo.

Repito: é a última chance que temos de impedir um desastre comparável ao da decisão Roe versus Wade, que em 1973 declarou "legal" o aborto nos Estados Unidos, a revelia do Poder Legislativo.

"Coração Imaculado de Maria, livrai-nos da maldição do aborto"

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis
www.providaanapolis.org.br
naomatar.blogspot.com.br

sábado, 7 de abril de 2012

Amor e ... responsabilidade?

Por Edward P. Sri

Fala-se rotineiramente que metade dos casamentos termina em divórcio. Mas o que muitas vezes não é discutido é a outra metade da equação: os casamentos que não acabam. Esses casamentos estão indo muito bem? Será que os cônjuges que permanecem juntos realmente se sentem próximos um do outro? Será que eles alcançam uma intimidade verdadeira, pessoal e duradoura?
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A situação nesse outro lado não é muito bonita. Estudos tem mostrado que a maioria dos casais não se sentem unidos a um amigo(a) verdadeiro(a). Na verdade, apenas 1 de cada 10 casais nos Estados Unidos dizem experimentar intimidade emocional no relacionamento.

Um bom casamento não é aquele onde as pessoas simplesmente permanecem juntas. Um bom casamento é aquele em que os esposos experimentam uma profunda comunhão pessoal um com o outro. Queremos casamentos em que pessoas com 10, 20 ou 30 anos de casado possam dizer: “Eu amo meu(minha) esposo(a) agora mais do que quando me casei”.

Para João Paulo II – então Karol Wojtyla – o segredo para a comunhão pessoal na vida conjugal é o amor-doação-de-si, e um senso que acompanha esse amor, um senso de responsabilidade pelo dom que é a outra pessoa. Na verdade esse tema da aresponsabilidade é tão importante que ele o colocou no título do seu livro sobre amor, casamento e relacionamento entre homem e mulher. O livro não se chama simplesmente “Amor”, mas “Amor e Responsabilidade”.

O que é essa responsabilidade? E como ela pode transformar os relacionamentos entre esposos, noivos, e pessoas significativas? É isso que vamos explorar nesta reflexão.

Responsabilidade

Pense no que acontece em um amor onde há compromisso. Em nossa última reflexão, vimos que o sentido mais pleno do amor envolve duas pessoas que se doam uma à outra. E essa auto-doação nada mais é do que uma entrega total da vida da pessoa para outrem – um render as próprias preferências, liberdade, e vontade em prol do outro.

Isso significa que, no verdadeiro amor comprometido, meu(minha) amado(a) entrega completamente sua vida a mim. Essa pessoa renuncia livremente e amorosamente a sua autonomia e devota sua vontade ao bem do nosso casamento e ao bem de nossa família. Portanto, já que a pessoa amada confia sua vida inteiramente a mim dessa maneira única, eu devo, por minha vez, possuir um profundo senso de responsabilidade por ela – pelo seu bem-estar, sua felicidade, sua segurança emocional, sua santidade. Como explica Wojtyla: “Existe no amor uma responsabilidade particular – a responsabilidade por uma pessoa que está ligada pelo compromisso mais íntimo possível com a vida e a atividade de outra pessoa, e se torna, de certo modo, propriedade de quem recebe essa entrega de vida, esse dom de si” (Amor e Responsabilidade).

Aqui, Wojtyla oferece um padrão para o amor que é contra-cultural: “Quanto maior o sentimento de responsabilidade pela pessoa, mais há amor verdadeiro” (Amor e Responsabilidade). Note que ele não disse que haveria mais amor onde fossem mais fortes as emoções. A verdadeira medida para o amor não é o quanto se gosta de estar com a pessoa amada, ou quanto prazer se recebe dela. O amor autêntico não é tão centrado em si mesmo, constantemente olhando para dentro de si, para minhas próprias emoções e desejos. Ao invés, o verdadeiro amor olha para fora, com um fascínio para com meu(minha) amado(a) que entregou sua vida a mim, e tem um profundo senso de responsabilidade pelo seu bem, especialmente à luz do fato de que essa pessoa se entregou a mim dessa maneira.

Aceitando o dom

Para que possamos apreciar melhor o papel crucial que a responsabilidade possui em um relacionamento, vamos considerar os dois aspectos do amor doação-de-si. Por um lado, existe um doar a mim mesmo: a pessoa amada se entrega a mim e eu me entrego a ela. Por outro lado, há a aceitação da outra pessoa: eu aceito a pessoa amada como um dom que me foi confiado, e ela me aceita como um dom. Wojtyla observa como existe, no amor verdadeiro, um grande mistério de reciprocidade no dar e receber de um pelo outro. Na verdade, ele faz uma afirmação muito intrigante sobre isso: “Aceitação também deve ser doação, e doação também deve ser recepção” (Amor e responsabilidade).

Em que sentido aceitação é doação? Em outras palavras, em que sentido a aceitação da pessoa amada é um verdadeiro dom para ela? Os insights de João Paulo II na Teologia do Corpo nos ajudarão a compreender (1). Ao comentar sobre a união de Adão e Eva, ele explica que quando Eva foi apresentada a Adão pela primeira vez, ela foi plenamente aceita por ele, e os dois se tornaram intimamente unidos, como uma só pessoa. “Então o homem disse: ‘Finalmente essa é osso dos meus ossos e carne da minha carne’, portanto o homem deixa seu pai e sua mão e se une a sua mulher, e os dois se tornam uma só carne” (Gen 2, 23-24).

Como o pecado ainda não havia entrado no mundo Adão não lutava contra o egoísmo. Portanto, ele amava sua mulher não pelo que ele poderia lucrar com o relacionamento (uma ajudante para cuidar do jardim, companhia, prazer emocional, prazer sexual etc.). Ao invés, ele a amava pelo que ela era como pessoa. Ele aceitava sua mulher como esse tremendo dom ao qual ele iria cuidar e proteger. Ele tinha um profundo senso de responsabilidade por ela, e ele sempre buscava o que fosse melhor para ela, não para seus próprios interesses. Ele nunca fez nada que pudesse magoá-la.

A chave para a intimidade

Coloque-se no lugar de Eva. Imagine ter um esposo como esse! Imagine como ela deve ter se sentido totalmente aceita desse modo. De fato, foi um grande dom para ela ter um esposo que a recebeu alegremente e que a amou por ela mesma, pois seus anseios por uma comunhão pessoal puderam ser atendidos. A aceitação total de Eva por parte de Adão forneceu a ela a segurança que ela precisava para se sentir capaz de confiar seu coração e toda sua vida completamente a ele, sem medo de ser frustrada. Em outras palavras, o amor e a aceitação verdadeiros que Adão teve para com Eva fez florescer no coração dela a confiança que torna possível a intimidade emocional (2).

Essa é a chave para a comunhão pessoal no matrimônio. Eva nunca sentiu medo de ser usada por Adão, de ser incompreendida por ele, ou de ser magoada por ele, visto que ela tinha total confiança no amor dele. Portanto, nesse contexto do amor e da responsabilidade compromissada, ela se sentia livre para se entregar completamente a seu marido – emocional, espiritual e fisicamente – sem guardar nada para si.

De volta ao paraíso

Esse é o tipo de dinâmica que queremos para nossos casamentos: uma confiança integral, que torna possível a intimidade pessoal. Entretanto, a pessoa amada só vai aumentar sua confiança em mim – e consequentemente desvelar seu coração para mim – à medida que ele sente que estou comprometido com ela, que a aceito totalmente, e que sinto uma grande responsabilidade em procurar o que é melhor para ela.

Isso não é uma coisa fácil de se alcançar. Ao contrário de Adão e Eva no jardim, nossa natureza é decaída. Somos egoístas, e muitas vezes fazemos coisas que magoam a outra pessoa, e quebram a confiança, fazendo regredir a intimidade. Por exemplo, quando um homem está mais preocupado com o que precisa fazer no trabalho do que com as necessidades de sua esposa, ele envia para ela uma mensagem de que ela não é prioridade – de que todo o resto é mais importante. Isso, é claro, não ajuda a construir a confiança, e só a faz sentir mais distante de seu marido. Do mesmo modo, uma esposa que constantemente reclama do seu marido e o critica por suas fraquezas, por não conseguir fazer os trabalhos de casa, ou por não ter um emprego melhor, pode fazê-lo sentir-se desrespeitado ou indesejado. Essas reclamações provavelmente só irão torná-lo mais distante emocionalmente dela.

E quando experimentamos as fraquezas da pessoa amada, e nos sentimos magoados por algo que ela fez? Quando nos magoamos, temos a tentação de alimentar a frustração para com a pessoa amada, dizendo para nós mesmos: “Porque ele sempre faz isso? Ele nunca vai mudar!”. Podemos nos tornar defensivos (“Não foi culpa minha! Porque ela não entende?”). Podemos levantar barreiras (“Não vou mais contar para ele o que realmente estou sentindo... ele não liga mesmo...”). Podemos até começar a duvidar do amor (“ Se eu tivesse casado com outra pessoa, não seria tratado dessa maneira”).

Wojtyla nos lembra que é nesses momentos que nossa aceitação e responsabilidade pela outra pessoa são mais testadas. Por isso, devemos “amar a pessoa completamente, com todas as suas virtudes e faltas, até o ponto em que a amemos independente dessas virtudes e apesar dessas faltas” (Amor e Responsabilidade). Ele não está dizendo que devemos condescender ou ignorar os pecados e as fraquezas da pessoa amada. Mas ele está nos desafiando a evitar enxergar a pessoa amada como se fôssemos um advogado de acusação. Embora feridos, devemos olhar para além dos meros fatos (“Ela fez aquilo comigo!”) e ver a pessoa, que preserva seu grande valor mesmo em meio às fraquezas e pecados. Afinal de contas, como temos visto nessas reflexões, o amor é direcionado à pessoa – não apenas ao que ele(ela) faz por mim. Então, quando a pessoa amada está em um momento não tão bonito assim – não me é prazeroso, e na verdade faz algo que me magoa – ainda haverá amor e aceitação total para ela?

Esse é o tipo de pergunta que consegue atingir o âmago da questão do amor. Como resume Wojtyla:

“A força de tal amor emerge mais claramente quando a pessoa amada “tropeça”, quando suas fraquezas ou mesmo pecados ficam à mostra. Quem ama de verdade não retira seu amor, mas ama ainda mais, ama com plena consciência das limitações e pecados da outra pessoa, e sem aprová-los na mais mínima condição que seja. Pois a pessoa em si nunca perde seu valor essencial. A emoção que se vincula ao valor intrínseco da pessoa permanece fiel ao ser humano” (Amor e Responsabilidade).

Isso, claro, é análogo ao modo como o Senhor nos ama. Apesar de nossos pecados e falhas, Deus permanece fiel a nós, olhando-nos pacientemente e misericordiosamente, em face de nossas faltas. Ele continua conosco mesmo quando fazemos coisas que ferem nosso relacionamento com Ele.

Portanto, se queremos seguir a imagem de Cristo em nossos casamentos, devemos primeiramente e de modo mais intenso desenvolver uma atitude profunda de amor e de aceitação pelos nossos cônjuges do modo como eles são, com todas as suas imperfeições. Ao invés de tentar mudá-los ou de se irritar com suas faltas, devemos permanecer firmemente comprometidos com eles como pessoas que nos foram confiadas com dom. Nossa atitude fundamental para com a pessoa amada, em meio a suas fraquezas, não deve ser de agitação, defesa, ou irritação, mas sim de aceitação incondicional em nosso coração pelo(a) esposo(a) que ele(a) é, suportando pacientemente suas faltas. Quando fazemos isso, começamos a amar como Deus ama.
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Notas:
(1) Ver as catequeses da Teologia do Corpo presentes no livro “Homem e mulher o criou – Ed. EDUSC”.
(2) Nesta curta reflexão focalizei a aceitação que Adão teve para com Eva, porém o mesmo pode ser dito na outra direção. A aceitação total de Adão como dom, por parte de Eva, serve igualmente como dom para ele, fortalecendo mais ainda a confiança e a intimidade no relacionamento.
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O Autor: Edward Sri é professor assistente de Teologia do Benedictine College em Atchinson, Kansas, Estados Unidos, e autor de vários livros de Teologia e espiritualidade.
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Traduzido de: http://catholiceducation.org/articles/marriage/mf0071.html
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As profecias da Humanae Vitae, de Paulo VI

do blog Ecclesia Una (http://beinbetter.wordpress.com/2012/02/18/as-profecias-da-humanae-vitae-de-paulo-vi/)

Gostaria de aproveitar este tempo de Carnaval para escrever alguma coisa sobre as profecias feitas pelo Papa Paulo VI na encíclica Humanae Vitae, de 1968.


Primeiro, o que uma coisa tem a ver com a outra? Simplesmente tudo, caro leitor. No tempo do Carnaval parece que os hormônios da galera vêm à tona com muito mais força. Sim, há muita gente juntando as ferramentas de pesca e indo ao rancho para aproveitar o sossego da natureza; tem muita gente indo a um bom retiro espiritual para rezar e desagravar o Coração de Jesus; mas, ao mesmo tempo, há muitos – muitos mesmo! – aproveitando a festa para cair na gandaia, “encher a cara” e virar a noite sem pensar em nada, mais ou menos no estilo de “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos!” (Is 22, 13; 1 Cor 15, 32).

Danças imorais, roupas extravagantes, sexo sem compromisso, bebedeira liberalizada… Todos estes retratos integram um álbum sujo que contam a história da modernidade. Mas um senhor velho, sentado numa cátedra bimilenar, já anunciava a vinda de todos os males que hoje contemplamos com tristeza no olhar. Queremos falar, aqui, de um modo mais específico, dos alertas de Paulo VI sobre os problemas que uma mentalidade contraceptiva traria à sociedade – problemas que já estamos experimentando. Todas as previsões acertadas deste Pontífice estão compendiadas no número 17 da encíclica Humanae Vitae. Destacamos:

“Os homens retos poderão convencer-se ainda mais da fundamentação da doutrina da Igreja neste campo, se quiserem refletir nas consequências dos métodos da regulação artificial da natalidade. Considerem, antes de mais, o caminho amplo e fácil que tais métodos abririam à infidelidade conjugal e à degradação da moralidade. Não é preciso ter muita experiência para conhecer a fraqueza humana e para compreender que os homens – os jovens especialmente, tão vulneráveis neste ponto – precisam de estímulo para serem féis à lei moral e não se lhes deve proporcionar qualquer meio fácil para eles eludirem a sua observância. É ainda de recear que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito pela mulher e, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada.”

“Pense-se ainda seriamente na arma perigosa que se viria a pôr nas mãos de autoridades públicas, pouco preocupadas com exigências morais. Quem poderia reprovar a um governo o fato de ele aplicar à solução dos problemas da coletividade aquilo que viesse a ser reconhecido como lícito aos cônjuges para a solução de um problema familiar? Quem impediria os governantes de favorecerem e até mesmo de imporem às suas populações, se o julgassem necessário, o método de contracepção que eles reputassem mais eficaz? Deste modo, os homens, querendo evitar dificuldades individuais, familiares, ou sociais, que se verificam na observância da lei divina, acabariam por deixar à mercê da intervenção das autoridades públicas o setor mais pessoal e mais reservado da intimidade conjugal.”

O Papa Montini expõe quatro consequências principais advindas da adoção generalizada dos métodos contraceptivos: (1) queda generalizada dos padrões morais; (2) um aumento na infidelidade e ilegitimidade; (3) a redução das mulheres a objetos utilizados para satisfação dos homens; e (4) coerção governamental em matérias envolvendo reprodução. Aparentemente, nenhum destes pontos é-nos estranho. Examinemo-los:

- Queda generalizada dos padrões morais. Mais do que padrões morais sendo derrubados, a própria existência de verdades morais objetivas vem sendo seriamente questionada nestes tempos de “ditadura do relativismo” em que vivemos. Os princípios de bem e mal são lentamente abolidos; ao invés, adota-se cada vez mais um princípio pragmático de pensamento: as ações do homem deveriam ser pautadas não pelo que é certo ou errado, mas pelo que é útil e vantajoso para o momento. As consequências passam até mesmo dos limites toleráveis, a ponto de lermos na Internet verdadeiras “apologias” de práticas vergonhosas, como a pedofilia. Contra estes, levanta-se o profeta Isaías: “Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que mudam as trevas em luz e a luz em trevas, que tornam doce o que é amargo, e amargo o que é doce!” (Is 5, 20).

Amargam o que é doce, também, aqueles que desnaturam o ato conjugal, doação íntima dos esposos, vivendo a sexualidade como uma mera busca de prazer. Ainda na Humanae Vitae Paulo VI explica que esta condenação da contracepção artificial “está fundada sobre a conexão inseparável que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o significado procriador” (n. 12). Em nosso tempo, porém, estes dois significados parecem ter se divorciado. Mais: para muitos, nem mesmo o aspecto unitivo do ato conjugal é levado em conta, sendo substituído por uma “pseudounião”, uma doação momentânea, limitada à esfera da libido. Estes relacionamentos mais efêmeros – que podem durar uma só noite até – são cultuados, também por nosso governo. Basta assistir as propagandas confeccionadas para o tempo do Carnaval.

- Um aumento na infidelidade e ilegitimidade. Bom, falar de infidelidade no mundo contemporâneo é praticamente proibido, já que a noção de compromisso vem praticamente caindo em ostracismo. Mas, nos casos em que este ainda existe, está fragilizado por um generalizado desprezo pela virtude da castidade. Assim, se ainda não ocorreu por parte de um dos cônjuges uma traição de fato, certamente algum “já adulterou com ela [outra] em seu coração” (Mt 5, 28). Há casais que ainda vivem o amor entre si e lutam para viver a fidelidade, mas infelizmente o quadro geral é bem outro. A cultura pornográfica e hedonista de nosso século estimula a poligamia e incentiva os homens a evitarem o casamento, fazendo com que a própria instituição familiar entre em crise.

- A redução das mulheres a objetos utilizados para satisfação dos homens. Basta ouvir um pouquinho as músicas que fazem sucesso nas danceterias e nos bailes ultimamente… O funk é, por excelência, a música de coisificação da mulher – como também várias letras do axé. Em uma, ela é cachorra e “fica de quatro na mesa”; noutra, canta que está a disposição do homem com um “quero te dar”; nalgumas, não é tratada nem mesmo como mulher (só se ouve a referência ao seu órgão sexual, nada mais).

Essas músicas não são ouvidas por todos, é verdade. Mas são retratos de uma dura realidade: as mulheres não estão sendo devidamente respeitadas. Muitas mesmo não se dão ao devido respeito, se vestindo vulgarmente, se comportando indecentemente… No Carnaval esta sentença encontra seu ápice. Os desfiles das escolas de samba estão repletos de mulheres seminuas, dançando tanto para quem está na Sapucaí quanto para quem está em casa.

- Coerção governamental em matérias envolvendo reprodução. A China é o melhor exemplo do que um Estado totalitário, aliado a um neomalthusianismo sem escrúpulos, pode fazer. No país, prevalece, desde os anos 70, a Política do Filho Único. Os casais que ousam ter mais de um filho são punidos com multas altíssimas (isto quando o governo não obriga que a criança seja cruelmente privada de seu direito de viver).

Em nosso país, já começou a iniciativa de distribuir camisinhas nas escolas, iniciando as nossas crianças e adolescentes precocemente no mundo do sexo – isto sem falar das cartilhas vergonhosas que são distribuídas com o financiamento das autoridades públicas. Ora, então você sugere que evitemos a educação sexual em sala de aula? Sugiro que o tema seja abordado, mas de forma a se manter o pudor, pois sabemos muito bem que nem todos os pais concordam com esta política contraceptiva agressiva de nosso governo. O alerta do Papa Pio XII soa bastante conveniente neste momento de nossa história:

“O pudor sugere ainda aos pais e educadores os termos apropriados para formar, na castidade, a consciência dos jovens. Evidentemente, como lembrávamos há pouco numa alocução, ‘este pudor não se deve confundir com o silêncio perpétuo que vá até excluir, na formação moral, que se fale com sobriedade e prudência dessas matérias’. Contudo, com freqüência demasiada nos nossos dias, certos professores e educadores julgam-se obrigados a iniciar as crianças inocentes nos segredos da geração duma maneira que lhes ofende o pudor. Ora, nesse assunto tem de se observar a justa moderação que exige o pudor.”

- Sacra Virginitas, n. 57


Justa moderação! É por nos furtamos de observar esta justa moderação da qual fala o Venerável Pio XII que experimentamos hoje os frutos amargos de uma educação permissiva e irresponsável. É por desprezarmos os conselhos de Paulo VI que hoje observamos uma generalizada “degradação da moralidade” e dos bons costumes… É, é forçoso para muitos reconhecer, mas “é hora de admitir que a Igreja sempre esteve certa sobre a contracepção”.

Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!